sábado, 12 de setembro de 2009

Vai passar...


Vai passar

Chico Buarque


Vai passar
Nessa avenida um samba popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais

Num tempo
Página infeliz da nossa história
Passagem desbotada na memória
Das nossas novas gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Seus filhos
Erravam cegos pelo continente
Levavam pedras feito penitentes
Erguendo estranhas catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)
Palmas pra ala dos barões famintos
O bloco dos napoleões retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear

Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral vai passar
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório geral
Vai passar


Composição: Chico Buarque e Francis Hime


O começo do fim da longa e tenebrosa nevasca cultural foi 1979. O recém criado Conselho Superior de Censura abrandava a atuação repressiva. Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações, Chico Buarque e Francis Hime compuseram o samba “Vai Passar”, hino da Campanha das Diretas. O disco com "Vai passar" é o Chico Buarque 1984, mesmo ano da votação da emenda das "Diretas já", em abril.


13 comentários:

  1. Com esse protesto à ditadura, Chico mostra ao mesmo tempo revolta e esperança, acreditando que amanhã tudo estará melhor que hoje, logo no título. No final da canção, ele faz uma crítica, com uma metáfora: "Ai, que vida boa, olará. O estandarte do sanatório geral. Vai passar.". Ele afirma que quem é a favor da ditadura, não apresenta sanidade mental.

    Mariana Diniz - 9° E

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  2. A música fala quer passar que tudo ficará bem, que no fim vai dar tudo certo e que vai ter um novo dia, que este será melhor...
    Passava uma esperança para as pessoas e ao mesmo tempo um protesto! ''O estandarte do sanatório geral... vai passar'' ou seja, que a ditadura vai passar e ficará tudo bem."

    Bianca Rabelo - 9°E

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    1. claro que não!
      "O estandarte do sanatório geral" Ele quis dizer que para comemorar fazendo um carnaval em meio a toda barbaridade que o país sofria na época, e vem sofrendo até hoje, o povo só pode ser doido.
      a música é uma pérola do sarcasmo.
      Ele ironiza o povo sem memória e resignado que, longe de enfrentar a realidade com lutas, vai se refugiar no pão e circo.

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    2. Com certeza. E a música é totalmente atual para o momento. Afinal, o país está vivendo um momento de caos, mesmo assim as pessoas pensam em carnaval. É o sanatório geral mesmo...

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  3. A música fala da época em que as pessoas eram pressionadas pela ditadura, mas mesmo assim havia o carnaval, samba e danças de rua que pertecem à cultura brasileira. Nesse tempo o carnaval era visto como uma forma das pessoas esquecerem o que já tinham passado e se divertirem, com uma esperança de um dia acabar com a ditadura militar, isso retrata bem a frase "vai passar..."

    Janaína Guerra - 9º ano E

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  4. Essa canção me lembra um professor de história que tive na 7ª série. Foi a primeira vez que ouvi essa música.
    Vale a pena perceber que esse desfile de carnaval é também o desfile de toda a história do Brasil que foi submetida à exploração, à pobreza, ao preconceito, à escravidão do negro, à hipocrisia. Uma história não de sucessos, mas de dor, acima de tudo.`
    Percebam as metáforas e leiam observando esses aspectos. Quem são os pigmeus do Bulevar? Os barões famintos? Quem são os filhos de que ele fala?????
    Um abraço!

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  5. Achei dois pontos interessantes: o sofrimento das pessoas dessa epoca, que nao possuiam liberdade de expressão e lazer
    ->Erravam cegos pelo continente
    Levavam pedras feito penitentes
    Erguendo estranhas catedrais
    E um dia, afinal
    Tinham direito a uma alegria fugaz
    Uma ofegante epidemia
    Que se chamava carnaval

    E o esquecimento atual da geraçao mais nova:
    ->Num tempo
    Página infeliz da nossa história
    Passagem desbotada na memória
    Das nossas novas gerações

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  6. Apesar da ditadura acontecendo eles ainda festejavam o carnaval.
    E legal também ver que com o passar do tempo eles vão conseguindo um pouco de liberdade.

    JuliaRomera 9ano E

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  7. Fico aqui pensando que as letras na época da ditadura realmente eram um protesto e geravam duplo sentido justamente para que a repressaõ não as impedisse de serem amplamente escutadas e tudo mais. Hoje, depois de ler a letra, ouvir algumas vezes, e escutar a história contada pelas bahianas em Salvador, me coloco a pensar se a letra não fala mesmo é da história esquecida dos escravos.

    Vejam...
    Foram os escravos que com as mãos construíram cada uma das ruas da velha cidade e que são nossos ancestrais. Esse trabalho era de um sofrimento sem tamanho e eles saíam completamente ensanguentados, sambando... ergueram as catedrais estilizadas e imortais cheias de santos brancos e totalmente construídas pelos negors, e quando "um dia, afinal, tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia, que se chamava Carnaval".
    Eram os barões que comandavam todo esse trabalho, os franceses "napoleões retintos". E depois Chico fala da liberdade...

    Não sei, o que vocês acham?

    Obrigada pelo espaço de diálogo, assim a gente se torna mais sábio ;)
    Michele

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  8. Concordo com Michele! Bem, já faz quase dois anos desse post, mas resolvi procurar na internet sobre essa música, pois em uma prova que fiz essa semana em Cultura Brasileira, o professor pediu para analisarmos essa música. Foi esses aspectos que ressaltei, sobre a escravidão e as manifestações culturais dos negros.

    Abraço!

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  9. E ainda existem aqueles que apoiam ditaduras, seja ela de esquerda ou direita. A liberdade de expressão deve ser defendida por todos nós.

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  10. A letra dessa música retrata exatamente o que foram os governos Lula e Dilma.

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